O DonnaBella recebe
carinhosamente minha prima
Mágali Bianchi Alcântara Scalcon que nos presenteia com duas crônicas:
"A Noite" , "Quando setembro chegar..."
A Noite
Flavio e eu gostamos de caminhar à noite. Andamos quase sistematicamente de setembro a junho
pois na cidade onde moramos, o rigor do inverno não nos permite desafiá-lo sob
o risco de contrairmos no mínimo uma faringite.
Nas nossas voltinhas diárias, constatamos que a noite é, por
vezes, cúmplice ou confidente de seres que como nós, apreciam o silêncio. O ecoar dos nossos passos
ritmados e da nossa respiração vai oxigenando nossas ideias e pensamentos, quadra a quadra percorrida e formatando algumas aspirações.
Ao dobrar uma esquina, nunca sabemos com qual cena vamos nos
deparar e às vezes, uma certa tensão
paira no ar.
Outros passos são ouvidos
e diante de nós uma velha senhora, cabelos grisalhos em desalinho, roupa
surrada, galochas ruidosas aos pés e na
mão uma longa corda presa à coleira de um gato angorá de olhos maldosos e
presas afiadas passam rentes à calçada, fazendo –nos esgueirar junto ao muro...
Seguimos absortos no nosso mundo, e o ar fica mais
rarefeito, por que já completamos dois quilômetros e o nosso condicionamento físico não é lá
essas coisas. Mantemo-nos em silêncio e
quando percebemos já estamos no parque central . Andando
até a curva do rio, onde
o vento fica mais forte, invadindo nossos agasalhos, sem a menor piedade damo-nos
conta que estamos perto de completar nosso percurso.
Outros caminham ou correm na direção contrária e os
guardinhas fazem a ronda.
Já são 21h e a lua cheia entre nuvens emite sua luz
espectral, dando um toque de mistério e magia nessa cidade que é digna de um
roteiro de filme. Mágali Bianchi Alcântara Scalcon
Quando setembro chegar...
Anoitece rapidamente no mês de junho. Particularmente quando
teu coração está apertado ao deixar alguém que tu ama muito entregue à própria
sorte. As nuvens
carregadas de tons
cinza e preto em nada contribuem para tua angústia e a estrada é longa demais. Apesar das dezenas de vezes realizando o mesmo percurso nos últimos anos , a sensação
de abandono permanece. Não reclamo da vida porque é mesmo inútil. Os fatos se
somam e pintam cenas dantes coloridas com cores monocromáticas, um interminável
cem tons de cinza. Isso é um trocadilho idiota que assomou na minha mente agora
um pouco menos lúcida pela taça de vinho que bebi.
Sinto frio nos pés, enregelando o corpo e anestesiando a
mente e penso como seria fácil por um fim em tudo isso: jogar o carro dentro do
rio ou bater com força na traseira de um caminhão. Mas não sou camicase e
detesto a ideia de morrer. Nem mesmo de brincadeira.
Acho mesmo que vou viver
pra sempre, pois sou meio vampira. Adoro a noite e vivo de fantasias. Ingiro, sugo
,sorvo o menor resquício de felicidade e
sonho com a eternidade.
Não tenho a pretensão dos poetas de me imortalizar, mas
deixei gravado o meu DNA nela ,na fonte do meu amor.
Incondicional é a palavra que define tudo que se refere ao amor. Não uma besteira
qualquer: mas amor de verdade, daqueles
únicos ,que nem o Machado ,que é o cara, conseguiria escrever uma linha
sequer. O amor que faz agente de capacho, que te faz andar 600Km em 5 h e que
faz teu ouvido de pinico inúmeras vezes.
Ando e espero. Não confio, não sossego. Vivo por um fio. Quero resultados positivos,
mas Deus é quem sabe. Só espero que Ele se apiede de mim e diminua meu
sofrimento. Até porque setembro logo
chega e os tons amarelos –rosados tingirão as estradas das nossas vidas. Mágali Bianchi Alcântara Scalcon
Grande abraço, espero que tenha curtido tanto quanto eu, até o próximo post!
Karem Medeiros
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