segunda-feira, 30 de junho de 2014

Hoje acordei Flamenco...









Hoje acordei Flamenco, apesar da ausência do sol. Repentinamente, a guitarra flamenca aguçou meus sentidos e o cante gritado e doído, me forçou a taconear... Pego meu leque, olho-me no espelho e, como num passe de mágica, vejo surgir uma rosa vermelha em meus cabelos castanhos. Logo em seguida, a pálida tez fez-se boca carmim e um risco negro delineou meus olhos. Até então, sentia-me enclausurada dentro de mim mesma. Confinada em um diminuto espaço de meu ser, mas paradoxalmente perdida na imensidão dos meus devaneios, com inúmeras potencialidades inexploradas. Não seria a verdadeira prisão, a que cultivamos em nosso interior? Este claustro independe de paradigmas pré-estabelecidos ou mesmo de consciências externas à nossa. Cada ser humano tem a sua própria consciência, desperta ou adormecida. A minha estava andando entre o sono e a vigília. Ela não se entregava ao sono profundo e reparador, mas igualmente não emergia à inteireza do despertar. Estava vivendo em um quase-estado-de-torpor... Nem aqui e nem lá. Seria o limbo assim? Pois parece que sim... Acontece que quando se tem uma alma gitana (cigana), não há como se conformar com os confinamentos que nos são impostos ou mesmo com a auto-imposição da clausura. Uma alma gitana tem necessidade de voar, tem necessidade de partir e de voltar se assim desejar, tem necessidade de se expressar... Ela não precisa de aplausos, nem de aprovações, ela apenas necessita SER. SER o que efetivamente É. Sem paradigmas. Sem julgamentos. Sem valoração. Apenas, SER...  Sidamáya Bianchi Alcântara
 
 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O céu precipita

 
                                       Desde ontem o céu precipita seus sentimentos em pancadas de chuva  vertiginosas ou garoas ensimesmadas  nos tornando mais reflexivos e até nostálgicos.


                             Eu me permito divagar olhando a garoa, sentindo o ar úmido em meu rosto e fico  observando as cores dos  guarda-chuva, o chuá das rodas apressadas nas poças que não escorreram pela impermeabilidade do asfalto.

                                 Muitos transeuntes  se protegem  das investidas do tempo como podem. As rotinas são acrescidas de um adereço a saudade, de casa, de alguém, de um tempo, existe a necessidade de estar aconchegado a um lugar determinante e “seu”.                 



                             Esse lugar via de regra  remete a vontade de cada um (a) pode ser ele real, ou imaginário, interno ou externo. 
Em todos os lugares, cantos que se anda fala-se em algum prato que cairia bem hoje ou bebida que traria esse acalento que todos necessitam em doses menores ou maiores. É! Cada um traça diariamente muitos planos, alguns realizáveis outros como a garoa, em breve passaram. A conveniência de achar sempre um espaço seguro para regressar  dentro de nossa mente e ao mesmo tempo fisicamente é a proteção paradoxal ao sonho. Ambos necessários como o guarda-chuva ou a capa, mas só nos lembramos  deles quando colocamos o pé fora da porta e sentimos as gotas  pirimpilando em nosso rosto.                                                               Karem Medeiros