Nas últimas 24
horas eu entro e saio do prédio e observo uma cena que poderia ser comum, mas
não é. Todos buscam o sucesso, conquistas e ao final de todos os dias
querem felicidade, como uma tocha erguida em um pódio fajuto, esperava que nas
próximas horas mudasse a alternância dos fatos. Já noite e em casa, mais
especificamente nessa última hora em que parei e começo realmente a enxergar através
da minha janela. Não consigo definir se jovem ou madura, mas tem uma mulher a
mais horas do que eu gostaria na rua, no chão... Não consigo relaxar mesmo
cansada, não fico confortável ao saber que ela está lá... Paralisei... Por um
momento, sou tristeza... Por ela, por mim...
Nada conheço sobre sua jornada e não
conhecerei, se não fosse ofensivo a abraçaria (sim, ofensivo... ela está
quieta, onde pode ou quer estar... não sei...). Entendo que são centenas nessa
ou em condições semelhantes pelo país e pelo mundo... Lamento, não poder
alterar a situação, impedir o desconforto ou sofrimento... Não julgo, mas me
sinto fragmentada, esvaziada... Impossível simplesmente fazer o jantar, ou ler
um livro...
Vou fazer algo
ao meu alcance, sim, assim de relance! Eu sendo eu... Visto meus chinelos,
arrumo um sanduiche, bolo, fruta, café e água com esmero e carinho como se
fosse para mim. Pego a chave desço e vou ao encontro da desconhecida.
Posso não ser bem vinda... Veremos!
Moça, moça...Insisto, ela está enrolada
em suas cobertas!
Te trouxe um lanchinho...
Ela se destapa e me abre um sorriso
lindo, mesmo com ausência de dentes e com um grande curativo menos limpo do que
deveria tapando o olho direito.
Esse cheiro é café??? (Ela pergunta).
Sim!
Que delícia! Obrigado! (Dentro de suas
necessidades ela primeiro sorriu e ainda foi educada...).
Boa noite!
Depois
de me despedir dos nosso encontro de dois, três minutos no máximo, volto não
mais feliz, mas certa de que por alguns momentos ela se sentirá viva, humana e
a fúria e os golpes do dia, das últimas horas, anos, serão aplacadas por
instantes...
Amanhã se ela ainda estiver lá, talvez
tenhamos uma conversa com um diálogo mais pessoal. Quem sabe eu pergunte seu
nome... Por hoje quero que ela fique a salvo, que o café que a fez sorrir lhe
traga um afago e que o céu que é seu telhado seja uma explosão de luz e belas
estrelas...
Karem Medeiros
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