terça-feira, 2 de julho de 2024

Que maravilha! Meu avô

     Um texto para registrar meus pensos, quase sempre eles tem esse propósito... Acordei com saudades do meu avô, Seu Vanoli, o Ginho, apelido carinhoso pelo qual era conhecido, fui companheira deles a vida toda e me dou conta disso agora. Tomava chimarrão  bem cedo pela manhã com eles( meu avô e minha avó), muito, mas muito pequena na beira do fogão a lenha com a minha cuia pequenina e água morna para não machucar. E aquecida pelo carinho dos meus avós e pelo aconchego da cena o frio do Rio Grande sempre me foi fascinante. Sempre orbitei a oficina do meu avô, hora encantada pelas máquinas, outra, por tudo que entrava como uma chapa metálica e saia uma peça, várias  vezes enorme, mas também podiam ser pequenas dependia da necessidade do cliente. Meu avô era funileiro dos bons, bastante requisitado e respeitado pela clientela, E embora hoje eu fosse impedida de entrar em uma oficina por medidas de segurança, naquele período meu avô deixava eu ficar por lá de vez em quando advertida de todos os cuidados que deveria tomar, é claro.
E aí nestes momentos eu viajava literalmente desenhando nos cadernos que ele tinha para fazer rabiscos dos moldes, usava os lápis apontados a faca e deixava praticamente sem ponta, mas o vô não brigava soltava um 'guria'! Quando eu cansava dessa proeza ia de torno em torno apertando cada alavanca até que não tivesse mais o que apertar,  alguns tornos mais altos eu colocava um tronco de madeira aumentando minha estatura e estava pronta  para apertar o próximo, rsrs. E era o máximo. Não podia pegar metal, pregos,  alicates e objetos cortantes essa era a regra...
  E quando entrava uma galinha na oficina aí a festa era completa, porque até ela sair ou o meu avô pegá-la era só diversão. 
Ahh! Não contei né!? Atrás da oficina tinha um 'galinheiro' com casinhas para as galinhas (minha avó setorizava as galinhas). Pés de árvores frutíferas dividiam o espaço e davam sombra as galinhas ( já desenvolviam a ideia de utilização harmoniosa e simbiótica do meio) então de vez em quando uma galinha se aventurava passando para o outro lado. E do lado esquerdo da oficina tinha uma hortinha, pés de bananeira e bergamoteiras. Quer ambiente mais lúdico que esse para uma criança que convive com os avós. Mas meu avô também era um homem que gostava de novidades e sabíamos disso, toda inovação contávamos a ele.  Amava uma festa , música, jornal, TV e futebol, um colorado apaixonado. Não sou colorada mas torcia para o Inter ganhar para meu avô não ficar triste. Cresci assim e acompanhei meu avô sentado, olhando o jornal na beira da mesa, no mesmo lugar em todas as refeições, sempre atento as notícias. Faceiro, cheiroso, sempre pronto para um passeio. E com ele e a vó ( Dona Bella, vocês a conhecem falo sempre dela por aqui), vivi muitas coisas que me marcaram no dia a dia e passeios, compras, viagens, assim o tempo se diluiu e os anos passaram eu cresci e segui com eles a jornada. Continuei uma adulta curiosa,  meu avô foi perdendo a visão, mas não a alegria, sempre que uma novidade aparecia eu mostrava a ele, lembro  nitidamente do advento do caixa eletrônico, alheia aos demais que com cara amarrada aguardavam sua vez, eu levei meu avô para conhecer a tecnologia e manusea- lá mesmo com pouca visão. E assim foi por muito tempo gostava de levá-los aos lugares e não fazer pôr eles , mas com eles. Ficamos juntos até eles fazerem o caminho de volta a casa do pai. Hoje sinto uma saudade gostosa de ter esses registros em minha vida tão reais que me fazem tão bem! Vejo o sorriso do meu avô em cada fascínio que a vida me provoca! Nas palavras dele 'que maravilha'!
Karem Medeiros