E aí nestes momentos eu viajava literalmente desenhando nos cadernos que ele tinha para fazer rabiscos dos moldes, usava os lápis apontados a faca e deixava praticamente sem ponta, mas o vô não brigava soltava um 'guria'! Quando eu cansava dessa proeza ia de torno em torno apertando cada alavanca até que não tivesse mais o que apertar, alguns tornos mais altos eu colocava um tronco de madeira aumentando minha estatura e estava pronta para apertar o próximo, rsrs. E era o máximo. Não podia pegar metal, pregos, alicates e objetos cortantes essa era a regra...
E quando entrava uma galinha na oficina aí a festa era completa, porque até ela sair ou o meu avô pegá-la era só diversão.
Ahh! Não contei né!? Atrás da oficina tinha um 'galinheiro' com casinhas para as galinhas (minha avó setorizava as galinhas). Pés de árvores frutíferas dividiam o espaço e davam sombra as galinhas ( já desenvolviam a ideia de utilização harmoniosa e simbiótica do meio) então de vez em quando uma galinha se aventurava passando para o outro lado. E do lado esquerdo da oficina tinha uma hortinha, pés de bananeira e bergamoteiras. Quer ambiente mais lúdico que esse para uma criança que convive com os avós. Mas meu avô também era um homem que gostava de novidades e sabíamos disso, toda inovação contávamos a ele. Amava uma festa , música, jornal, TV e futebol, um colorado apaixonado. Não sou colorada mas torcia para o Inter ganhar para meu avô não ficar triste. Cresci assim e acompanhei meu avô sentado, olhando o jornal na beira da mesa, no mesmo lugar em todas as refeições, sempre atento as notícias. Faceiro, cheiroso, sempre pronto para um passeio. E com ele e a vó ( Dona Bella, vocês a conhecem falo sempre dela por aqui), vivi muitas coisas que me marcaram no dia a dia e passeios, compras, viagens, assim o tempo se diluiu e os anos passaram eu cresci e segui com eles a jornada. Continuei uma adulta curiosa, meu avô foi perdendo a visão, mas não a alegria, sempre que uma novidade aparecia eu mostrava a ele, lembro nitidamente do advento do caixa eletrônico, alheia aos demais que com cara amarrada aguardavam sua vez, eu levei meu avô para conhecer a tecnologia e manusea- lá mesmo com pouca visão. E assim foi por muito tempo gostava de levá-los aos lugares e não fazer pôr eles , mas com eles. Ficamos juntos até eles fazerem o caminho de volta a casa do pai. Hoje sinto uma saudade gostosa de ter esses registros em minha vida tão reais que me fazem tão bem! Vejo o sorriso do meu avô em cada fascínio que a vida me provoca! Nas palavras dele 'que maravilha'!
Karem Medeiros