sábado, 18 de maio de 2024

2024 Maio

                  Mesmo sendo avisados como em um anúncio futurista, sabíamos que Gaya já tão devastada e desrespeitada por nossa espécie, um dia cobraria. Os movimentos naturais vem sinalizando de forma muito própria seu descontentamento com os abusos incessantes dos habitantes desse planeta mãe. E em maio no extremo das Américas, Brasil, meu estado o Rio Grande do Sul é inundado pelas cheias em uma chuva violenta e incessante. A Mãe Terra  deságua tamanho descontentamento nesse torrão do país, é água que não para mais, 2024, fica na história como o tempo em que o pampa virou mar, as ondas andaram livremente por ruas, praças, em um rio de águas navegável. Não ouve trégua a classe, cor, religião, time, partido, gênero, espécie, tudo foi arrastado, inundado e as diferenças, tudo bobagem, se pensar em quanto poderia ter sido feito antes é até sacanagem. O pôr do Sol no Guaíba agora é lembrança, cartão postal. Parece loucura, mas é real,  sumiram bairros inteiros, casas surfaram rua abaixo, pessoas e animais lutaram por suas vidas. E famílias perderam seus familiares, a casa, a referência, a renda. Não se via mais sorrisos, casas abertas para o sol entrar, não tinha casa, nem sol. Não dava para sorrir, ao olhar ao longe, não havia o que olhar era tudo água, imensidão, devastação. Quem plantou não colheu,  quem lutou para construir não tem mais nada ali. Tanto desalento... 
Mas havia sim, uma luz que estava dentro do povo  gaúcho, o  que foi atingido podia contar com quem  estava a salvo e podia salvar, a ajuda viria do tamanho da gauchada, de todo os cantos do Brasil de formas diferentes. São incontáveis as perdas, silenciaram a vanera, apagou o fogo de chão, ninguém sentado lagarteando ou comendo bergamota, não há carne assando... 
Porém estamos juntando forças, estamos nos curando e buscando secar as lágrimas, a roda de chimarrão agora deu espaço para o trabalho voluntário  e solidário, o carreteiro na panela de ferro, deu lugar as marmitas em salão comunitário e o poncho se transformou em agasalhos e está sendo distribuído para aquecer o corpo e a alma do irmão. Levaremos muito tempo para ficarmos de novo em pé e para que todos possamos olhar  para o nosso horizonte sorrir e cantar " O meu Rio Grande do Sul..." .
Neste momento estamos assustados, desabrigados, nosso céu está cinza, o sol vai levar tempo para secar nossas vertentes de lágrimas e dor, mas somos do Sul, e se nos permitirem, vamos aprender, semear, vai florescer e crescer porque temos muito amor por está terra, certamente erramos muito, quem nunca, mas sempre podemos aprender! Somos gratos por cada ajuda seja ela uma doação, um sorriso, um abraço, seu tempo, sua oração! Karem Medeiros