havia o que fazer já que tudo acontecia em público e de forma bem velada. É a minha forma de registrar e dizer que me importei. E que me impactou de forma violenta, talvez pela identificação, já que não estou ficando mais jovem. Vamos tentar descrever, estava em um lugar lindo, aconchegante e com o objetivo de alimentar o corpo e a alma, sentada com uma de minhas filhas, rodeada de mesas elegantemente distribuídas e cadeiras igualmente bonitas e confortáveis, se aproxima um garçom alinhado e sorridente e nos entrega os cardápios, nos distraímos com os pedidos no entorno nos cercavam algumas pessoas. Me atraí outra mesa com o que parecia, não posso afirmar, ser também mãe e filha. E fica claro pela oscilação da voz e movimentos corporais da que tinha bem menos tempo de vida que a comunicação não fluía, e não me parecia ser o objetivo da mesma, uma conversa fluída. Já a forma em que a outra personagem com mais caminhada terrena, não se manifestava, mostrava um nítido cansaço e sequer tentava argumentar, como se consentir fosse a forma de estar ali e expressar algo sem gritar, ferir... Só expressão silenciosa e cordata mesmo. Era para eu estar tranquila , feliz, mas me entristeci por ela, eram pessoas parecidas, tinham algum parentesco, vivência talvez, mas pareciam estrangeiras em um país novo, onde cada qual falava um dialeto diferente. Veio nossa comida, deliciosa, minha filha falava comigo , fizemos comentários a respeito dos pratos, conversarmos, ela também reparou a situação não tinha como não reparar. Foi um momento agradável, mas menos feliz do que programamos, acabamos nos envolvendo naquele contexto como ouvintes e observadoras passivas.
Ao fim da nossa refeição agradecemos aos garçons e ao Chef, querídissimos. Pagamos. Mas realmente fiquei pensando a idade nos traz a maturidade e experiência. Porém dependendo do teu grau de dependência seja ela permitida ou uma necessidade cria-se um espaço limitado onde não sabemos o quê e como fazer, estamos sempre nos desculpando por estar ali. Em uma cena da vida real que acontece de formas variadas e não deixa de ser infeliz. Envelhecer é dádiva deve ser vista como tal, não se deveria ser ou ficar constrangida(o/x) por viver por mais tempo!
Karem Medeiros
