segunda-feira, 13 de julho de 2020

Chocada

E ao me declarar assim, desenvolvo meu sentimento, acordei as 4 horas e 35 minutos mais ou menos a imprecisão é porque esperei algum tempo para entender o barulho que me acordava e de onde vinha, até que percebi que de uma das janelas do meu apartamento ouvia como se estivessem dentro do espaço comigo, madrugada de quarentena, era da rua, do prédio vizinho ao meu, xingamentos de vários tons, agressivo, pejorativo e ofensivo, custei a identificar do que se tratava, um moço falante, estava bastante "diferente" por assim dizer, nessas alturas já são 5 horas e 45 minutos e o próprio jovem em sua euforia ofensiva dita às horas e entre suas ameaças da a hora pensando que o seu alvo teria de ir trabalhar em seguida, se tratava de um casal jovem. Para minha absurda estagnação, depois de várias dezenas de pérolas grotescas proferidas a ela, a jovem diz Thomas(assim vamos chamá-lo, 24 anos, informações berrada pelo próprio, os termos chulos vou poupá-los), mor (como assim, cadê o teu amor próprio), óbvio que todo mundo que tem  um relacionamento se desentende, discuti, fica até de mal por algum tempo, tranquilo, mas daí a ser transgredida moral e sintuosamente na rua, e ainda se referir a pessoa com um termo que a priori deveria designar algo precioso... 
Bom! Digamos que ela estava em choque e negação... Para mim, ei! Eu disse para mim é forte. Bom ela o convida para subir, se acalmar, ele ameaça o filho (dela, pois ela diz o meu filho), a vida do filho, a jovem já tinha ouvido ameaças a si, mas essa, a sua prole ela reage, questiona... E a Ladainha continua, para por alguns minutos, eu com o sono perdido resolvo fazer um café... Ouço, um estrondo... 
A referida moça foi jogada no chão no meio da rua molhada pelo tempo nos últimos dias, chuva, umidade... Ela chora não se levanta e diz quebrei, quebrei... Aturdida não sei o que faço... Chamo o SAMU, ligo para a polícia... O jovem profere a filosófica frase "Eu mereço"... Fica olhando para ela, ela se lamentando, chorosa...Ele 'heroicamente' a pega no colo e os dois entram no prédio (onde até poucos minutos antes dele empurrá-la e derrubá-la se negava a entrar ao som de inúmeros insultos...). Nao sabemos a gravidade do ferimento, se seus vizinhos de condomínio como eu ficaram aguardando para ver se se resolviam, se ela daqui umas horas fingira que nada aconteceu... Se irá trabalhar dolorida, duplamente ferida... Ele vai acordar certamente com aquela cara de bergota em final de feira...
Triste! Muito triste!
Como ela existem milhares... 
Essa nem Nelson Rodrigues pensaria.
Karem Medeiros